Falar sobre a abolição da escravatura na educação infantil pode parecer um desafio, especialmente por se tratar de um tema complexo, doloroso e histórico. No entanto, é justamente nos primeiros anos da educação formal que valores como respeito, igualdade, diversidade e justiça começam a ser construídos nas crianças. Por isso, trabalhar a abolição da escravatura na educação infantil não só é possível como necessário.
Neste artigo, vamos abordar estratégias e atividades que educadores podem utilizar para tratar o tema de forma lúdica, sensível e significativa, respeitando o nível de compreensão das crianças e contribuindo para uma formação cidadã desde os primeiros anos.
A importância de abordar a abolição da escravatura na infância
A abolição da escravatura, oficializada no Brasil em 13 de maio de 1888, é um marco histórico que precisa ser conhecido e contextualizado desde cedo. Apesar de o público da educação infantil ainda não dominar conceitos históricos ou jurídicos, é possível abordar o tema com foco nos valores humanos e sociais que ele carrega: liberdade, respeito, dignidade e equidade.
Quando tratamos a abolição da escravatura com crianças pequenas, estamos semeando uma consciência crítica, o respeito à diversidade racial e o combate às formas de preconceito que ainda persistem na sociedade atual. A proposta deve ser adaptada à linguagem e à realidade infantil, sempre com base no brincar, nas artes, nas histórias e nas experiências.
Como introduzir o tema de forma lúdica e sensível
Como já mencionamos em outro artigo, a ludicidade é uma das melhores formas de se trabalhar com os pequenos. Listamos abaixo 5 formas de trabalhar de forma lúdica e sensível.
1. Comece pelos valores
Antes de entrar diretamente no tema da escravidão, é interessante trabalhar valores fundamentais com a turma: o que é liberdade? O que é justiça? Como devemos tratar as pessoas que são diferentes de nós?
Rodas de conversa, músicas, contação de histórias e jogos cooperativos podem ser utilizados para introduzir essas ideias de maneira leve e participativa.
2. Use histórias infantis com representatividade
Livros ilustrados e histórias contadas são poderosas ferramentas para abordar temas complexos com crianças pequenas. Existem obras infantis que falam sobre ancestralidade africana, resistência e orgulho da identidade negra sem necessariamente mostrar cenas de violência.
Algumas sugestões incluem:
- O cabelo de Lelê, de Valéria Belém
- Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado
- Amoras, de Emicida
- O mundo no Black Power de Tayó, de Kiusam de Oliveira
Essas leituras podem ser seguidas de conversas, dramatizações ou produções artísticas inspiradas na história.
3. Crie um ambiente representativo e diverso
Os materiais visuais expostos na sala, os brinquedos, os personagens e as figuras apresentadas devem contemplar a diversidade racial. Isso reforça a ideia de pertencimento e combate o silenciamento histórico de crianças negras no ambiente escolar.
Evite, por exemplo, apresentar apenas personagens brancos como protagonistas nas atividades. Busque figuras inspiradoras da história brasileira ligadas à luta contra a escravidão e à valorização da cultura negra, como Zumbi dos Palmares, Dandara e Tereza de Benguela.
4. Trabalhe com músicas e danças afro-brasileiras
A cultura afro-brasileira é rica em expressões artísticas, músicas, ritmos e danças. Introduzir a musicalidade de matriz africana nas atividades é uma forma de celebrar a resistência do povo negro de maneira lúdica e respeitosa.
Músicas com tambores, contação de histórias com elementos do folclore africano e atividades corporais inspiradas em ritmos como o samba e o maracatu ajudam a criança a se conectar com esse universo de forma positiva e alegre.
5. Proponha produções artísticas com símbolos de liberdade
Atividades como pintura, colagem e modelagem podem abordar o tema da liberdade por meio de símbolos que a criança compreenda: pássaros, chaves, asas, mãos dadas, entre outros.
Por exemplo, você pode propor que as crianças pintem ou montem uma grande “árvore da liberdade”, onde cada folha representa um valor: respeito, amizade, igualdade, etc. O mural pode ser exposto como parte de uma celebração ao 13 de maio.
O papel do educador: sensibilidade e preparo
Mais do que repetir datas e nomes, o educador deve mediar o processo com empatia, clareza e respeito à diversidade. É importante estar preparado para lidar com dúvidas, sentimentos e até com falas preconceituosas, que podem surgir como reflexo do meio em que a criança vive.
Falar sobre a abolição da escravatura na educação infantil não significa romantizar o sofrimento ou omitir a dor histórica — significa dar voz à memória e trabalhar a reparação social de forma educativa e construtiva.
Conclusão
A abolição da escravatura, embora celebrada como um marco da liberdade no Brasil, é apenas um dos capítulos de uma história longa e ainda marcada por desigualdades. Trabalhar esse tema na educação infantil é uma forma de começar cedo a construção de uma sociedade mais justa, plural e consciente.
Ao propor atividades lúdicas, inclusivas e significativas, o educador oferece às crianças ferramentas para reconhecer a diversidade, valorizar suas raízes e respeitar o outro. É na infância que se constrói o alicerce de um futuro com mais empatia e equidade racial.
Quer atualizar seus conceitos pedagógicos e evoluir como profissional da educação?
No NINPE você encontra mais de 70 cursos reconhecidos pelo MEC com matrícula gratuita e certificado de horas válidos para progressão na carreira, concursos, seleções e formação continuada. Clique aqui e conheça agora mesmo!